o apito inicial ao final do Re-Pa de ontem à tarde, apenas um time jogou no pesado gramado do Mangueirão, o Paysandu. Por isso, a goleada de 3 a 0 poderia ter sido ainda maior se o Papão não tivesse tirado o pé do acelerador ou se o goleiro do Clube do Remo não fosse Vinícius. O fato é que a equipe bicolor sobrou em campo, mesmo sem poder bater no peito para dizer que teve uma atuação de gala. O time azulino foi tão apático em campo que só teve algum destaque pelas jogadas violentas que resultaram em duas expulsões – David Batista e Vacaria.
Vindo de uma semana difícil, com uma viagem desgastante e com uma desclassificação precoce na Copa do Brasil, o Remo em nenhum momento ameaçou o maior rival. Com a exceção de um chute do meia Echeverría, nos acréscimos, em nenhum outro momento o gol defendido por Mota sofreu algum perigo. Ao contrário do Paysandu, que encontrava muita facilidade que parecia nem precisar apertar para chegar perto da área azulina.
Foi assim que o time alviazul chegou aos três gols, dois com o centroavante Paulo Rangel e um contra. Este, por sinal, foi bem emblemático do que foi a partida. Aos 12 minutos do primeiro tempo, Caíque Oliveira cabeceou com força e Vinícius faz grande defesa. Na sobra, os zagueiros Kevem e Rafael Jansen se atrapalham e abrem o placar num lance patético.
A facilidade do Paysandu e a total inoperância do Remo fez com que a torcida gritasse olé e remistas ainda no intervalo começassem a deixar o estádio estadual, ao passo que a Fiel fazia a festa na expectativa de uma goleada, que só não foi maior porque o Papão teve humildade em gol.
Parra os azulinos, restou lamentar e pregar o não abatimento com a derrota no primeiro clássico do ano. “É complicado explicar. Perdemos um clássico, mas não podemos nos abalar”, disse Kevem. “Temos que ter mais vontade. Deixamos muito a desejar diante de uma equipe qualificada como o Paysandu. Temos que corrigir os erros apresentados”, completou Rafael Jansen.
O atacante Elielton, que ano passado com a camisa remista fez o gol da vitória em um Re-Pa, comemorou a assistência do gol que fechou o placar. “Queria ter feito o gol para selar minha participação, mas fiquei feliz com a assistência para o Paulo ampliar o placar”.
AGENDA
As duas equipes voltam a campo no meio de semana, ambas fora de casa. Na quarta-feira o Paysandu duela com o Águia, no estádio da Curuzu, em Belém. No dia seguinte o Clube do Remo encara o Paragominas, na Arena do Município Verde.
Gente que brilha, gente que bate!
Enquanto o atacante Paulo Rangel se sobressaiu no clássico e comemorou os dois gols marcados, teve atleta que se deixou levar pela pressão da partida e acabou perdendo a cabeça
Árbitro Dewson Freitas teve trabalho para conter jogadas violentas e precisou expulsar dois jogadores do Remo (Foto: Mairo Ângelo/Diário do Pará)
Na véspera do clássico, o paraense Paulo Rangel admitiu que depois de tantos anos longe do Brasil a oportunidade de estar em campo num Re-Pa era a realização de um sonho. Se conseguisse marcar um gol, seria até demais. Não foi um gol, foram dois e uma atuação decisiva. “Quem é paraense sonha com isso e estou realizando o meu com esse gol”, disse o jogador.
Para Paulo Rangel, foram dias de muita concentração para não sair do script. No fim, tudo o que foi ensaiado deu certo para o atacante. “Treinei muito durante a semana para acertar hoje (ontem). Consegui acertar depois de uma bola muito boa do Vinícius e fui feliz”, comentou o centroavante, que minimizou as reclamações das jogadas violentas do adversário. “Clássico é assim, muito pegado. Mas, tudo dentro da lealdade”.
Com os dois gols, ele chegou a três em três jogos, dividindo a artilharia do Parazão ao lado de Gabriel Gonçalves (Bragantino), Michel (Paragominas) e Alexandre (São Francisco). De acordo com Rangel, se as cobranças futuras vierem com resultados como o de ontem, ele está aberto à pressão. “Se a cobrança for assim, então está bom. Mas, o mais importante foram os três pontos. O grupo mostrou união e que está focado. Todos estão remando na mesma direção”.
NA PRESSÃO
Uma das situações que chamou a atenção no clássico de ontem foi a vontade de brigar e discutir de ambos os lados logo no início do jogo. Mas, enquanto do lado bicolor as cabeças esfriaram e o futebol apareceu do azulino tudo só foi piorando. Cada lance era uma reclamação, cada dividida era mais pegada, a ponto dos bicolores reclamarem de excessos por parte do rival.
“Vencemos a partida por mérito. O Remo é uma equipe muito boa, mas desde o primeiro lance fomos superiores e fizeram antijogo conosco. O adversário valorizou, mas abusou um pouco da violência”, disse o técnico João Brigatti, que pregou mais temperança em situações como as de ontem. “Tem que saber jogar e tem que saber perder. Sei que as vezes a cabeça esquenta, mas isso não é um campo de batalha. É preciso ter cabeça no lugar”.
EXPULSÕES
Nas duas expulsões do Remo, a do volante Vacaria foi pelo conjunto da obra em reclamações e jogadas que lhe renderam dois cartões amarelos. Já o centroavante Davi Batista foi o personagem negativo do clássico. Aos oito minutos ele deixou o pé e acertou o rosto do lateral bicolor Bruno Collaço. Doze minutos depois ele fez pior. Depois de driblar Leandro Lima, ele pisou no peito do adversário e recebeu cartão vermelho direto.
Para o bicolor agredido, não houve dúvida alguma no lance. “No momento que poderia ter chutado, ele (Davi) quis pisar e deixou a perna. Se não quisesse, não teria me deixado machucado”, explicou Leandro Lima.
Sem exaltar ou derrubar…
João Brigatti desabafa após a vitória e reclama de pressão sobre o trabalho dele e de Netão. Profissional pede que haja paciência para evolução aparecer e descarta empolgação com triunfo (Foto: Mauro Ângelo/Diário do Pará)
Após a vitória de ontem, ainda no gramado, o técnico do Paysandu fez um desabafo sobre a pressão que não só ele, como o próprio João Nasser, treinador do Remo, vivenciaram antes do clássico. Para João Brigatti, o estágio dos dois times ainda é de preparação, com o Papão com apenas quatro jogos no ano e o Leão com cinco, pouco para a cobrança até aqui.
“A pressão sobre os técnicos é imensa. Não dá para ter um conjunto com 20 dias de trabalho e quatro jogos. O prazo de validade de um treinador é muito pequeno no Brasil. Tem que haver confiança e não esse troca troca de treinadores. Não está tudo certo aqui, assim como não está tudo errado no Remo. Tem que haver paciência com nosso trabalho”, desabafou João Brigatti.
Ele garante que não pode haver empolgação na Curuzu. Ao mesmo tempo em que diz que a vitória no clássico tem que ser comemorada, ainda há muito a ser feito em virtude dos objetivos do ano. “Conseguimos uma vitória maiúscula, mas não está nada acertado ainda. Temos que ter os pés no chão. Antes empatamos com o Castanhal. São apenas quatro jogos e não dá para esperar que o time já esteja pronto. O Paysandu está de parabéns pela humildade e pela entrega”.
Brigatti garante que não houve “pé no freio” por parte do Paysandu diante da vantagem. Segundo ele, o Remo é que foi para cima para tentar o empate, lamentando apenas que os espaços dados não foram aproveitados para mais gols. “Conversei com eles no intervalo sobre manter a pressão, mas era natural que o Remo fosse para cima e teríamos espaços. Poderíamos ter aproveitado mais as chances que apareceram”.
Sobre a escrita de quatro derrotas ano passado, ele reconhece que foi tirado um peso de todos que estão na Curuzu. “Nós não estávamos aqui, mas carregamos essa escrita. Todos queriam vencer o maior rival. A equipe se comportou muito bem e está de parabéns”, finalizou Brigatti.
(Tylon Maués/Diário do Pará)