A bola sorri para os jovens

 

Há um mistério que ronda a história de bons jogadores, ídolos de suas torcidas no Brasil, que não passaram no teste de admissão ao futebol da Europa, grande vitrine do esporte e régua para medir quem é bom de verdade no mundo da bola. A tendência se acentuou nas últimas décadas e que revela uma nova realidade: não basta ser craque, é preciso ser jovem para ter chances num futebol regido pelas leis do mercado.

O exemplo de Dudu, ídolo palmeirense nos últimas quatro temporadas, é simbólico das voltas que a bola dá. Badalado e inflado pela imprensa, que sempre viu alta categoria em um jogador mediano, Dudu tem contra si também a falta de participação na Seleção.

Mesmo se destacando no Palmeiras, com muitos gols e liderança em campo, Dudu nunca despertou interesse do futebol europeu. Acabou emprestado ao futebol do Catar, por 7 milhões de euros (R$ 42,8 milhões).  

Por que tanta indiferença dos grandes centros? Além do futebol abaixo da linha de corte dos jogadores que a Europa busca, Dudu tem 28 anos e, por assim dizer, já é página virada, como no folhetim buarqueano.

Os gigantes da Europa focam em atletas cada vez mais imberbes, sem vícios. A preferência é por atletas na faixa de 14 a 17 anos, adquiridos para que complementem a formação técnica, física e escolar dentro dos clubes.

Não por acaso, o Real Madrid só se interessou nos últimos anos por jovens promessas, como Vinícius Junior, Rodrygo e Reinier. Antes, o Barcelona levou Arthur, que não se consolidou e foi negociado com a Juventus.

Quem via Dudu ser incensado pela sempre militante e apaixonada mídia esportiva paulistana, sendo coberto de elogios e prêmios (levou quatro bolas de prata e uma Bola de Ouro da Placar), imaginava que ele iria longe, com chances de vir a se transferir para Espanha, Itália ou França.

Afinal, nomes improváveis – e menos cotados – conseguiram transpor a fronteira, mesmo que o sucesso tenha sido modesto ou quase nenhum. Bernard, Richarlyson, Hulk são logo lembrados. Dudu é melhor que todos eles, mas chegou ao auge estourando a idade-limite.


É mais ou menos o que se passa com o ex-gremista Luan, hoje no Corinthians, e com Everton Cebolinha. Clubes ingleses sondaram o Grêmio, mas ficou nisso – e ele tem 24 anos. Gabigol, um dos protagonistas do Flamengo em 2019, também está fora do radar.

Aliás, o êxito no Brasil não é balizador de sucesso. Persiste lá fora, com razão, a impressão de que o campeonato nacional é tecnicamente fraco e pouco seletivo. Todos sabem que qualquer time um pouco mais organizado (o Fla de Jorge Jesus, por exemplo) acaba se destacando.

Conspira, ainda, contra Dudu o fato de ter – como Gabigol – passado por lá e não ter mostrado qualidades. Esteve no Dínamo de Kiev sem render. Podia ter sido a plataforma para chegar a centros de maior destaque.

É possível questionar os métodos de avaliação dos clubes da Europa, pois muito jogador bom só atinge o auge em torno dos 25 ou 27 anos, mas o pragmatismo financeiro faz com que a idade seja priorizada. Os clubes trabalham com a perspectiva de vir a negociar o jogador ao final do contrato. Quanto mais “velho”, menor o valor de revenda.

Mick Jagger teria dito certa vez que roqueiros deveriam morrer jovens, antes que envelheçam de corpo – e alma. O futebol europeu, grosso modo, segue à risca essa regra fechando a porta a boleiros rodados.

 

 

Bola na Torre

 

Guilherme Guerreiro apresenta o programa, a partir das 21h, na RBATV. Estarei na bancada ao lado de Giuseppe Tommaso. Em pauta, os reforços  para o complemento do Parazão e a expectativa em relação à Série C.

 

 

Qatar prepara uma Copa para prender o torcedor em casa

 

Algumas Copas do Mundo nos obrigaram a horários meio malucos, como a de 1970 no México e, principalmente, a de 2002 na Ásia.  Era preciso madrugar para ver a Seleção jogar. Felizmente, foram sacrifícios bem recompensados. A próxima, no Qatar, vai ser pela primeira vez em novembro e dezembro e terá alguns jogos às 7h (hora de Brasília).

A novidade é que a Fifa vai definir horário e local dos jogos somente após o sorteio dos grupos, provavelmente em abril de 2022. A preocupação é garantir horários decentes (e lucrativos) para a transmissão das partidas.

Com isso, seleções sul-americanas deverão ser contempladas com horários mais normais, assegurando audiências mais robustas. É provável que o Brasil, caso se classifique nas eliminatórias, tenha jogos na faixa local das 16h (10h de Brasília), 19h (13h de Brasília) e 22h (16h de Brasília).

A grande final, em 18 de dezembro, será disputada às 18h (12h no Brasil). A abertura, a 21 de novembro, será às 13h, 7h no Brasil. A Copa terá 32 participantes, mas a de 2026 (nos EUA, Canadá e México) alinhará 48 seleções. Para encaixar a tabela em 28 dias, a 1ª fase será realizada com quatro jogos diários, sem folga entre a etapa de grupos e as oitavas.  

Como se vê, ninguém terá tempo para sair de casa, pois a bola vai rolar todos os dias em quatro faixas de horário. Uma overdose na TV.

 

 

Sons da torcida e totens para dar “calor” aos jogos sem público

 

Os clubes gaúchos estão dispostos a incrementar a transmissão de seus jogos e estimular os jogadores reproduzindo os cantos tradicionais das torcidas, vaias para os adversários e gritos de gol. É uma forma de manter a chama acesa e reconstituir o “calor” da galera. A ideia será colocada em prática já no Gauchão, mas deve ser mantida para o Brasileiro.

É o que Remo ensaia fazer postando totens com fotografias de torcedores no tobogã da 25 de Setembro, no estádio Baenão. Pelo direito de “estar lá” na arquibancada, os torcedores pagarão R$ 50,00 e R$ 60,00 (não sócios). Um bom negócio para todos. 

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