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Antes de deixar cargo, Bolsonaro concedeu honraria a Neymar

Antes de deixar a presidência, Jair Bolsonaro (PL) concedeu títulos da Ordem de Rio Branco a diversas personalidades, militares e medalhistas de ouro olímpico nos Jogos de Tóquio, disputados em 2021. Entre eles está Neymar, que não esteve presente na conquista olímpica do Brasil no Japão. O decreto foi oficializado no Diário Oficial da União (DOU), no dia 1º dezembro de 2022.

Neymar é o único atleta desta lista a receber a condecoração sem ter participado dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Também foram homenageados em dezembro pelo governo federal os medalhistas de ouro olímpico em 2021: as velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze, a ginasta Rebeca Andrade, e o surfista Ítalo Ferreira. Todos receberam a Ordem no grau de comendador.

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No DOU, Neymar é classificado como “atleta” em sua condecoração. Além disso, outros medalhistas de ouro olímpico em 2021 não foram agraciados pela honraria. Ana Marcela Cunha, da maratona aquática, Hebert Conceição, do boxe, e Isaquias Queiroz, da canoagem, ficaram fora da lista.

Essa é a segunda honraria que Bolsonaro concedeu a Neymar. Em 2020, o então presidente deu ao jogador a medalha Cruz do Mérito Desportivo, que também foi oferecida a outros 24 esportistas, dentre eles o ginasta Arthur Zanetti, o boxeador Robson Conceição e a judoca Sarah Menezes.

A condecoração de Neymar à Ordem acontece por meio de sugestão da embaixada de Paris, ainda em fevereiro do último ano, para que o jogador recebesse a honraria. Para tal, foram destacadas sua medalha de ouro olímpica, conquistada em 2016, seu desempenho na França, onde atua desde 2017, e sua presença nas redes sociais.

Falecido no último mês, Pelé é um dos atletas brasileiros a ter recebido a condecoração da Ordem de Rio Branco, em 1969, das mãos de Emílio Garrastazu Médici, então presidente do Brasil e Grão-Mestre da Ordem. Em 2008, Cafu também foi agraciado com a honraria, no grau de Oficial. Aos 37 anos, o então lateral-direito do Milan recebeu a medalha das mãos do cônsul Antonio Augusto Dayrell de Lima, em cerimônia realizada no consulado do Brasil, em Milão.

A reportagem do Estadão contatou a assessoria de Neymar, NR Sports, para comentar sobre o caso, mas não obteve resposta.

O QUE É A ORDEM DE RIO BRANCO?

Instituída pelo então presidente João Goulart no Decreto nº 51.697, de 5 de fevereiro de 1963, a Ordem de Rio Branco tem o objetivo de estimular a prática de ações e feitos dignos de honrosa menção ao distinguir serviços meritórios e virtudes cívicas. Ela é intitulada em homenagem ao Barão do Rio Branco, patrono da diplomacia brasileira.

A condecoração consta de cinco graus: Grã-Cruz, Grande Oficial, Comendador, Oficial e Cavaleiro, além de uma Medalha anexa à Ordem. Todos os títulos distribuídos por Jair Bolsonaro estão no terceiro grau de importância.

“A insígnia da Ordem é uma cruz de quatro braços e oito pontas esmaltadas de branco, tendo no centro a esfera armilar, em prata dourada, inscrita, num círculo de esmalte azul, a legenda ‘Ubique Patriae Memor’, do mesmo metal. No reverso dourado, as datas 1845-1912”, diz o Art. 2º do Regulamento.

A Ordem de Rio Branco é dividida em dois quadros: Ordinário e Suplementar. O primeiro, com vagas limitadas, reúne os diplomatas brasileiros, enquanto o segundo condecora os diplomatas aposentados e todas as demais pessoas físicas ou jurídicas, sejam nacionais ou estrangeiras, que venham a receber a Ordem.

Segundo o portal oficial do governo, o Conselho da Ordem é constituído pelo presidente da República, Grão-Mestre, pelo ministro de Estado das Relações Exteriores, na qualidade de Chanceler, pelos chefes das Casas Civil e Militar da Presidência da República e pelo secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores.

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RELAÇÃO DE NEYMAR E BOLSONARO

A relação entre Neymar e o ex-presidente Jair Bolsonaro é antiga. Além de já ter recebido outras condecorações, ele declarou apoio durante sua campanha à reeleição nas redes sociais, um vídeo em que faz uma coreografia em sintonia com uma música pedindo voto, em setembro do ano passado. O atacante já havia demonstrado sua proximidade com o presidente em outras oportunidades, mas o apoio ganhou força quando Bolsonaro fez uma visita ao Instituto Neymar Júnior na cidade de Praia Grande, litoral de São Paulo.

À época, o atacante da seleção brasileira e do Paris Saint-Germain foi criticado nas redes sociais e ironizou quem reprovou o seu posicionamento. “Falam em democracia e um ‘montão’ de coisa, mas quando alguém tem uma opinião diferente é atacado pelas próprias pessoas que falam em democracia.”

O jogador também participou de uma live para ajudar na campanha à reeleição do então presidente. “Nunca falei isso em lugar nenhum, mas queria agradecer ao presidente, que, no momento mais difícil da minha vida, foi o primeiro a se posicionar publicamente dizendo que estaria do meu lado”, afirmou.

Neymar ainda citou o lema de campanha de Bolsonaro – “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” – antes de receber do presidente um apelo para convencer eleitores, durante a transmissão ao vivo, a votar nele. “Eu fico muito feliz de ver, ultimamente, bandeiras espalhadas pelo Brasil, não só pelo o que está em jogo, e sim pelo orgulho de ser brasileiro”, afirmou. “O que me motivou a expor a minha opinião são os valores que o presidente carrega, que são bem parecidos comigo, com a minha família, com tudo que a gente preza”, emendou o jogador, que também convocou outros atletas a se posicionarem na eleição.

O atleta também prometeu que, caso marcasse na Copa do Mundo do Catar, dedicaria sua comemoração para Bolsonaro. O atacante marcou em duas oportunidades, diante da Coreia do Sul, nas oitavas de final, e contra a Croácia, nas quartas. Em nenhuma das ocasiões dedicou seu gol ao ex-presidente.

Em 2019, quando o atleta foi acusado de tentativa de estupro, Bolsonaro declarou que acreditava na inocência dele e chegou a encontrá-lo antes de uma partida da seleção brasileira no estádio Mané Garrincha, em Brasília. “Espero dar um abraço no Neymar antes do jogo. Está em um momento difícil, mas acredito nele”, disse.

No mesmo ano, o pai de Neymar esteve em Brasília para uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro. O empresário Neymar da Silva Santos foi recebido também pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, para “prestar esclarecimentos” sobre processo contra o jogador que estava sendo avaliado pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf).

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