Quando chegou ao Paysandu, Ryan Williams conquistou logo a admiração do torcedor bicolor, com a sua irreverência. Porém, nas quatro linhas, o atleta demorou para mostrar seu futebol e deixou Belém sem agradar com a bola no pé. O atleta contou ao site Trivela como foi sua experiência no Norte do Brasil. Entre a confusão burocrática do futebol brasileiro, falta de atuação, ociosidade e a segurança em Belém, o inglês resume a sua experiência como maluca: “Foram os cinco meses mais malucos da minha vida. Eu sabia que seria diferente, mas não imaginava que fosse acontecer assim”.
“O que me atrapalhou foram aspectos da organização. Eu pensei que jogaria no sábado, mas eles perceberam que eu precisava de um visto. No Canadá, foi a primeira coisa que fizeram. Eu tinha que pegar os documentos da Inglaterra, depois sair do país para a Argentina e voltar para conseguir meu visto na fronteira. Neste momento, eu estava no Brasil fazia seis semanas e estava ficando bravo. Dois dias antes do prazo, cheguei ao escritório para assinar, mas o sistema estava fora do ar em todo o país. Eu acabei perdendo a data”, contou.
O meia, que atuou em Morecambe e Brentford, chegou no Papão em fevereiro para o contrato de três meses, mas a questão de transferência complicou a estadia de Ryan. Um mês depois veio a adaptação. No futebol ele não jogou o Campeonato Paraense e Copa Verde, atuou apenas 20 minutos na Série B. “Eu joguei por 20 minutos na minha estreia, quando estávamos perdendo, e eu participei do pênalti que nos deu o empate. Penso que os torcedores estavam empolgados em me ver jogar e estavam empurrando para que eu jogasse mais. Definitivamente fiz um bom jogo e esperava mais chances, mas não aconteceu de novo”, disse o meia.
O inglês não reclama do tempo que passou em Belém, mesmo o ócio de quando nãotreinava e com tanta insegurança relatada por Fernando Timbó, jogador bicolor com quem ele dividia moradia, mas o fato de não ter jogado, deixou Ryan desmotivado. “Não me importo em me sacrificar e viver em uma cidade difícil, se eu estiver jogando futebol. Se eu não estiver, então, prefiro voltar para casa. Estou esperando para ouvir quais as propostas, mas nunca é fácil. Sei que todo mundo diz que mais jogadores ingleses devem sair do país, mas quando você volta, não é fácil voltar porque dizem que você saiu da vista. As pessoas apontam que você esteve fora por dois anos e eles têm outros alvos em mente”, analisou.
Ryan tentou manter o mesmo estilo de vida em Belém que tinha na Ingraterra, mas alguns problemas, como a segurança, não ajudaram no processo. “No início, eu apenas saía do meu apartamento para comprar pão ou leite, mas o rapaz com quem eu vivia, Fernando Timbó, dizia que eu não sabia quão perigoso era sair. Mesmo se fosse de dia, crianças vinham até mim e diziam em um inglês ruim que não era seguro. Isso foi um pouco surpreendente. Ficava escuro bem cedo, por volta das seis da tarde. Então, às vezes eu chegava às sete e percebia que precisava de algum ingrediente para o jantar. Mas você simplesmente não podia sair à noite. Eu tenho um vídeo em meu celular de um rapaz sendo sequestrado a poucos quarteirões. Nos jornais, você regularmente via fotos de pessoas mortas no chão”, contou Ryan.
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“Não era uma questão de confiança, e sim de segurança. A situação de vida era difícil para mim. Se você está em uma cidade cosmopolita como o Rio, São Paulo ou Florianópolis, ainda não será fácil, mas definitivamente dá para se adaptar. Belém era diferente. Mesmo alguns dos brasileiros me diziam que a cidade não era para eles. Então, enquanto eu estava realmente feliz em encarar o desafio, reconheci logo que seria difícil”, acrescentou.
ARREPENDIMENTO
“Não tenho. Parece loucura, mas foi importante para o meu desenvolvimento como pessoa ir para lá. Meus companheiros eram ótimos, o futebol era fantástico e eu cresci muito. Foi um caminho que nunca pensei que seguiria, mas recomendo 100%. Eu me desenvolvi mais em dois anos do que nos dez anteriores. Agora, só quero jogar futebol”.
FIEL
“Não me entenda mal, eram pessoas amáveis e, como um inglês jogando no maior clube da cidade, eles ficavam malucos comigo. Nós tivemos torcidas de 40 mil para alguns jogos, são muito apaixonados. Quando foi anunciado que eu estava chegando, eu tive a impressão que haveria muita exposição na imprensa, porque meu Instagram explodiu. Mais de 10 mil brasileiros me seguiram em um mês. Eles eram muito ativos, então logo minha conta estava cheia de comentários em português e eu não tinha ideia do que eles estavam falando”.
Ryan finaliza com a visibilidade e a paixão das pessoas pelo futebol: “Uma coisa engraçada era quando chegava em casa do treino e mudava de canal na TV, eles mostravam nosso treino pela manhã. No Morecambe, você aparece na televisão uma ou duas vezes na temporada, particularmente se você jogar bem em um jogo de copa. Era divertido, mas no Paysandu acontecia todos os dias”.
(Com informações do Trivela)