A caminho de nova paralisação

 

Os casos vão se acumulando, as histórias se repetem, o descontrole é óbvio. Sim, fracassaram as providências que a CBF adotou para retomar o futebol em segurança para atletas, comissões técnicas e demais envolvidos nos jogos das Séries A, B e C. Duas partidas já foram adiadas, outras estão ameaçadas de suspensão e o calendário vai ficando apertado, mesmo com previsão de alongamento até fevereiro de 2021.

Nas próximas horas, o jogo entre Imperatriz e Jacuipense, pela Série C, deverá ser adiado também, pois o time maranhense teve 14 jogadores positivados com covid-19, razão da suspensão da partida contra o Treze, no domingo passado. Na Série B, o CSA bateu o recorde: tem 18 jogadores contaminados e não tem condições de entrar em campo contra a Chapecoense, o que deve levar a outro adiamento.

Gil e Léo Natel, jogadores do Corinthians, testaram positivo antes do confronto com o Atlético-MG. Ontem, a menos de 24 horas de enfrentar o Flamengo, o Atlético-GO divulgou ter quatro jogadores contaminados.

Em meio a isso, no melhor estilo “vamos em frente”, a CBF anunciou medidas de correção do protocolo original e minimizou a possibilidade de suspensão do jogo no Rio. É como se houvesse um mundo paralelo ao sabor das bravatas e irresponsabilidades da entidade.

Tucano por vocação política, o secretário geral da CBF, Walter Feldman, declarou na maior sem-cerimônia que se forem identificados novos casos há possibilidade de suspender o jogo do Atlético Goianiense, “mas vamos até o limite com o protocolo”. Que protocolo, cara-pálida?


A verdade é que vários jogadores e um técnico (Márcio Coelho, do Figueirense) estão positivados, outros ainda não têm testes realizados e há o risco real de passarem para companheiros de time, adversários, arbitragem, integrantes de comissões técnicas, trabalhadores do jogo e até os próprios familiares. O risco da ocorrência de mortes é cada vez mais real, mas o futebol segue como se fosse imune à tragédia nacional.

O fato é que quando algo começa errado dificilmente acaba bem. É a lógica natural das coisas. O Brasileiro foi aberto no fim de semana em que o país chegou à marca fúnebre de 100 mil mortos pela covid-19. Centenas de jogadores ficaram expostos ao contágio nas três divisões nacionais.

Um problema relacionado com o atraso nos resultados de testes supervisionados pelo hospital Albert Einstein fez com que os atletas interagissem com companheiros em concentrações, voos e viagens de ônibus antes que soubessem da contaminação.

O caso do Imperatriz é o mais preocupante, pois a delegação fez uma viagem de ônibus do interior maranhense até Belém, depois pegou um voo até a Paraíba, onde jogaria com o Treze. Só ao chegar ao destino é que o clube soube, quatro horas antes do jogo, que 12 jogadores estavam infectados. A situação revela uma realidade de perigo para todos os clubes que disputam competições da CBF.

Algo precisa ser feito antes que alguém tombe em campo, por não saber que é portador da doença. Só então a entidade e os clubes irão se dar conta de que a retomada talvez tenha sido precipitada. No país que se permitiu ter o 2º maior número de mortes no mundo, com 3 milhões de contaminados, o bom senso deveria pautar todas as decisões, inclusive no futebol, a mais importante das coisas desimportantes.

Sequência de erros indica que CBF perdeu controle da situação  

 

A perspectiva de nova paralisação das competições começa a ser discutida e defendida por especialistas, à revelia da CBF, que errou feio no planejamento e na aplicação do protocolo. Pior que isso: demonstra não ter preparado um plano B para a prevenção de problemas possíveis.

Os clubes têm falhado no cumprimento do protocolo, mas o atraso na entrega de exames é algo imperdoável em meio à cadeia de riscos imposta pela doença no Brasil. A falha terrível, ocorrida com o Goiás, expõe a má gestão do problema por parte da CBF.

No jogo contra o Manaus, pela Série C, domingo, o Vila Nova-GO tinha um jogador infectado na delegação. Conviveu com os companheiros e só soube de sua condição depois da viagem à capital amazonense. O silêncio da CBF, que não assume publicamente a lambança criada, justifica o temor de que novos (e mais graves) problemas ocorram.

 

 

Clubes e FPF cumprem à risca o protocolo do Parazão

 

Não é bem o caso de arrotar orgulho pelo êxito na execução do protocolo de segurança nos jogos do Campeonato Estadual, mas clubes e FPF tiveram até aqui comportamento exemplar com a realização de jogos sem registro de incidentes que pusessem em risco a saúde de atletas e demais envolvidos nas partidas.

A ampla discussão de pormenores do protocolo, depois avalizado pelo Governo do Estado e Prefeitura de Belém, talvez seja o segredo do êxito no cumprimento das medidas determinadas antes da realização do Parazão.

Além disso, a competição regional foi reiniciada cerca de 80 dias após o pico da covid no Estado, segundo dados dos balanços epidemiológicos divulgados pelos órgãos públicos de saúde. O Brasileiro foi aberto quando a pandemia está no chamado “platô”, longe ainda de ser considerada controlada nos principais Estados do país.

Os exemplos e alertas dos organismos internacionais, como a OMS, deveriam ter balizado não só a atitude das autoridades federais – que inicialmente apelaram para o negacionismo doentio e depois abriram uma guerra criminosa contra os governos estaduais –, mas também, como se vê agora, os passos dos responsáveis pelo protocolo organizado pela CBF.  

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