O Dia Nacional do Samba – dia 2 de dezembro – está sendo celebrado sábado (04) com pelo menos dois shows, na capital paraense. O primeiro é o “Batuque Cabano”, comandado por Bruno Costa, a partir das 19h30, na quadra da escola de samba Bole-Bole. Já na quadra do Rancho, a celebração começa a partir das 21h30, tendo apresentações de Tonny Melodya e os Irmãos Travassos, com participação especial de Markinho PS e Macarrão, e fechando a noite com show do convidado nacional Toninho Geraes.
O Batuque é o desdobramento no formato presencial da live criada por Bruno Costa para reverenciar os grandes sambas enredos, desde a década de 1970, contando nesse show a história do carnaval de Belém. “Sou intérprete de samba enredo e a ideia surgiu de uma inquietação, frequentando as quadras das escolas, vi que se cantava poucos sambas do Pará, a maioria é do Rio de Janeiro, e temos escolas aqui de 60 anos, é muita história! Apesar de não ser mais um carnaval tão forte esteticamente, culturalmente ainda é”, diz ele.
Foi então que a pesquisa em busca dos clássicos começou, logo no início da pandemia. “Fui o primeiro dos artistas a fazer live de sambas enredos, antes até das escolas. E foram 50 sambas que escolhidos e transformados em três horas de live. Incluindo sambas de São agremiações como Xavantes e Vila Farah, que não existem mais e estarão lá sendo lembrados; sambas de escolas que existem ainda, mas não foram gravados. Foi até um trabalho de resgatar as melodias e letras, sentando e conversando com os mais antigos”, detalha.
Do repertório já registrado no canal do artista no Youtube, com o título “Live Cabana”, foram selecionados 30 sambas de 15 escolas diferentes, de Belém, para ser apresentado no show presencial. E Bruno Costa também conta com seis convidados para cantar alguns destes sambas, intérpretes de muito tempo na avenida, como Ademar Carneiro (que foi do saudoso Arco Íris, do Guamá e agora é da Bole-Bole), Théo Pérola Negra, Wanderley Explosão, Carlinhos Sabiá, além de Fábio Moreno e Luizinho Moura, que são de uma geração mais nova. Para acompanhá-los formou-se uma banda com ritmistas de várias escolas de samba.
TONINHO GERAES
Já a sede do Rancho recebe Toninho Geraes, conhecido compositor de sambas e das rodas do Rio de Janeiro, parceiro de Nelson Rufino no samba “Uma Prova de Amor”, gravado por Zeca Pagodinho; e também parceiro de Paulinho Rezende em “Alma Boêmia”, samba que fez sucesso nas rodas antes mesmo de ganhar gravação do cantor Diogo Nogueira, sem falar em outros sambas perpetuados em discos de artistas como Beth Carvalho. Para o show em Belém, traz uma seleção de suas músicas mais conhecidas e também de outros compositores que gosta.
“Eu tenho muita musica, mais 350 gravadas, fica difícil escolher o que vai compor o show. Então vou pelas mais pedidas e ao longo do show vou sentindo o que funciona com aquele público, o que me pedem na hora”, diz ele. Além da citada “Alma Boêmia”, ele diz que nunca pode faltar “Se a Fila Andar” e “Mais Feliz”. A discografia dele inclui álbuns como “Samba de Botequim” (2001), “Preceito” (2009) e “Estação Madureira” (2017). E destaca que celebrar o samba é mais do que fazer música e seguir cantando, também é um ato de resistência cultural.
“Quando criaram o Dia Nacional do Samba, alguns podem ter achado puro narcisismo ou vaidade, mas o mais triste de tudo isso é que esse dia foi criado porque a gente tem sempre que estar lembrando que ele existe. Nelson Sargento já dizia ‘o samba agoniza, mas não morre’. É uma grande verdade. O ato de tocar samba somente na hora do almoço, de não se ouvir com mais frequência na grade das programações nas rádios do Brasil, são coisas que a gente usa essa data para falar… Esse é também um dia de desabafo”, diz ele.
Com 35 anos de carreira fonográfica, o nome de Toninho nunca foi tão citado na mídia quanto recentemente, justamente por querer defender não só uma criação sua, mas o respeito à música brasileira. Ele é o artista que está processando a cantora e compositora inglesa Adele com a acusação de que a canção “Million Years Ago” (2015), lançada no terceiro álbum da cantora, “25”, seria plágio da melodia do samba “Mulheres” (1995), composto por Toninho e gravado por Martinho da Vila no álbum “Tá Delícia, Tá Gostoso”, vinte anos antes.
“Foram duas notificações extra judiciais feitas quando foi decidido tornar público o assunto, justamente porque não vimos boa vontade deles [Adele e seus produtores/gravadora] para debater o assunto. E essa é uma prova do desrespeito que se tem pela música brasileira, especialmente o samba. Esse não é um grito pessoal, é por todos nós músicos brasileiros que vira e mexe somos usurpados. Muitos veem trechos de suas obras serem usados e quando olha para o tamanho do gigante não tem coragem de se mover, para sequer contar onde foi lesado. Eu não, ao contrário da maioria, cobrei meu direito, a gente não pode ter aquela síndrome do vira-lata”, afirma.
SERVIÇO
Show “Batuque Cabano”
Quando: Sábado (04), às 19h30.
Onde: Quadra do Bole-Bole (Passagem da Pedreirinha, 153 – Guamá).
Quanto: R$10.
Show “Comemorando o Dia Nacional do Samba”
Atrações: Toninho Geraes, Tonny Melodya e Irmãos Travassos, com participação de Markinho PS e Macarrão.
Quando: Sábado (04), às 21h30.
Onde: Sede do Rancho (Tv. Honório José dos Santos, 758 – Jurunas).
Quanto: R$30 (individual) e R$50 (duplo).
Informações: (91) 3272-7801/ 98477-6708/ 99387-1356.